Carta de uma futura mãe

Essa semana recebi uma carta muito bonita de uma paciente do Projeto Beta- clínica de reprodução assistida onde atuo. Nessa carta a paciente fala das angústias e ansiedades envolvidas na luta por um filho e também, de suas motivações para seguir em frente. Desejo boas vibrações para essa futura mamãe!

Obs: A publicação dessa carta foi autorizada pela paciente

“Há 3 anos estou nessa jornada de tentar engravidar, no primeiro ano foram apenas tentativas de engravidar naturalmente, como nada aconteceu começaram os exames e as buscas por algo que justificasse essa impossibilidade. O único exame que acusou algo foi o teste pós-coito, um teste bem desagradável, o casal faz sexo com hora marcada e depois na hora marcada a mulher vai ao laboratório e faz uma análise do sêmen. O resultado foi 100% dos espermatozoides estavam mortos. A conclusão do médico foi: você tem imunidade contra seu parceiro, como se meu corpo entendesse que esses espermatozoides são intrusos que precisam ser atacados. A solução inseminação artificial, assim os espermatozoides seriam colocados já no colo do útero. Resultado: nada. Mais uma tentativa, resultado: nada. Resolvi procurar outra clínica, o médico me disse que ele não levava em consideração esse teste pós-coito, como já haviam sido feitas 2 tentativas de inseminação a sugestão foi FIV (fertilização in vitro), apesar do alto custo e eu não ter condições financeiras para isso fui em frente e dividi o tratamento em 12 vezes. Resultado: nada. O médico me disse que era assim mesmo que era só uma questão de estatística eu tinha 30% de chances e não consegui o resultado esperado. Sugestão era mais uma FIV, de novo eu sem dinheiro fui lá, afinal minha vontade de ser mãe era muito maior que a falta de dinheiro. Resultado: nada. Só que tinha uma coisa diferente eu tinha um sangramento no meio do ciclo, e descobri por outra médica que resolvi procurar, que eu tinha pólipos no útero e a sugestão histeroscopia cirúrgica para a retirada de pólipos, fui lá e fiz a cirurgia. Com o útero limpinho eu tinha 3 embriões congelados,fiz a transferência. Meu marido já estava cansado, assim como eu, estávamos frustrados e isso começou a abalar nossa relação sexual. Nessa transferência o resultado foi de novo negativo. Resolvi desencanar e viver um pouco a vida, minha vida já estava parada por 2 anos nessas tentativas e frustrações. Depois me indicaram uma clínica, que quando contei à minha ginecologista ela deu um pulo da  cadeira e mandou eu sair de lá pois não era uma clínica séria. Passado mais um tempo ouvi falar do projeto Beta por 2 amigas. Resolvi ir lá e gostei. Nesse meio tempo procurei Feng Shui para harmonizar o ambiente, fui a centros espíritas, me culpei achando que havia cometido muitos pecados nessa vida e na anterior e que não estava perdoada por Deus. Enfim, tudo que falavam para eu fazer eu fazia para conseguir o que eu tanto queria, ter meu bebê. Agora fiz mais uma FIV, ainda não sei o resultado, mas hoje me sinto numa montanha russa de sentimentos, hora confiante de que dessa vez deu tudo certo, hora descrente achando que de novo nada vai dar certo. Uma coisa é fato, ficaram várias feridas que são tratadas em minha análise e que tento cicatrizá-las, por outro lado tenho uma força tão grande que sei que uma hora vou conseguir. Essa força e essa fé vem do meu pai que há 26 anos luta contra o mal de Parkinson e nunca desistiu da vida. Quando olho pra ele sinto que preciso continuar a acreditar na vida e no meu sonho. E meu marido, super companheiro também nunca perdeu a fé de que iremos conseguir. Quem sabe dessa vez… Enquanto isso tento controlar minha ansiedade que cresce a cada dia antes do resultado do exame, é como seu eu fosse uma presidiária que só pensasse no dia da liberdade e risca na parede quantos dias faltam para o tão sonhado dia.”