Tratamentos de reprodução assistida: até quando tentar?

Depois de um loooongo tempo sem escrever por aqui, eis que faço uma nova tentativa de retomar o blog. Confesso que a escrita científica para livros e artigos acabaram tomando todo meu tempo, além, é claro, da rotina de trabalho no consultório e no Projeto Beta. Porém, não me esqueci da importância desse espaço e tentarei, aos poucos, retomar os trabalhos por aqui, sempre buscando trazer algo útil e que possa agregar ao universo emocional de todas e todos tentantes.

portasUma pergunta bastante recorrente nos meus atendimentos, principalmente, de tentantes de longa data é: “Luciana, até quando devo tentar? Já não aguento mais passar por tantos tratamentos e me frustrar?”.

Bem, costumo dizer que psicoterapeutas não são conselheiros e, se você ao longo de seu caminho, encontrar um desses por aí, tome cuidado, pois esse, realmente, não é nosso papel. Mas, de qualquer forma, como podemos saber até que momento vale a pena tentar?

Considerando que os limites são sempre subjetivos- já atendi pacientes que depois da primeira FIV decidiram nunca mais ter que passar por isso e outros que tinham feito mais de 15 FIVs e ainda estavam dispostos a ir em frente- é fundamental identificar o seu limite particular. Sim, porque todos temos limites e é saudável para o psiquismo o considerarmos para não adoecermos e para não enlouquecermos!

Não é difícil, em meio às tentativas de gravidez, cairmos, sem perceber, numa busca obsessiva pelo filho, onde não há espaço para pensar em recuar e, em meio a essa intensa batalha, já não sabemos nem mais se o principal é nos tornarmos mães ou provarmos para nós mesmas que somos capazes de conseguir. Muitas vezes, é complicado pensar em parar, olhar para trás e assumir que todo dinheiro dispendido e desgaste emocional foram em vão…

Mas será que se pararmos de investir nesse sonho tudo foi em vão mesmo? Penso que não, pois, por mais que vc possa estar sem o filho no futuro, ter tentado até onde foi possível, poderá lhe trazer uma sensação de tranquilidade lá na frente, afinal, vc não ficou de braços cruzados e lutou pelo que queria, mesmo o resultado não saindo conforme o esperado, já que não dependeu só de vc .

Percebo, junto aos pacientes que atendo, que a decisão de parar é dificílima, no entanto, ela se dá quando há o reconhecimento de que não existe mais espaço para viver só frustrações e expectativas, isso não quer dizer que o desejo de filho deixou de ser importante, mas, estar preso a ele, em muitos momentos é limitante e sofrido, sendo que em pról da realização de outros sonhos e oportunidades de ser feliz, escolhe-se parar para poder ter a chance de viver algo novo, de mudar de fase de vida.

O “parar” pode significar deixar de fazer tratamentos e tentar partir para outras possibilidades de se tornar pai e mãe, ou, até mesmo, abandonar o projeto de parentalidade para investir em outras produções, em “filhos simbólicos”.

Não há receita. Parar ou insistir neste sonho é algo muito particular, daí a importância de poder olhar para o seu interior e identificar até quando ainda está sendo suportável e possível toda essa luta.

O trabalho psicológico pode auxiliar bastante neste processo, ajudando-lhe a identificar seus limites no sentido de parar ou possibilitando-lhe recursos emocionais para seguir ir em frente.

Luciana Leis

 

Ansiedade faz demorar para engravidar?

Olá, pessoal!

Quero dividir com vcs uma entrevista que concedi ao site da UOL e que foi publicado esse mês sobre o tema tão controverso: Afinal, a ansiedade atrapalha ou não na conquista da gravidez?

Nesta entrevista, divulgo também os dados de uma pesquisa que realizei sobre o tema e que foi apresentada nos Congressos da Sociedade Americana e na Européia de Reprodução Humana (ASRM e ESHRE).

Espero que gostem!

Luciana Leis

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Nathália e a filha Valencia

O sonho da advogada Nathália Bastos era ser mãe. Quando se casou, aos 21 anos, logo ela e o marido colocaram em prática os planos para fazer a gravidez acontecer. Mas algo estava errado. E após seis meses de tentativas sem sucesso…
Em geral, médicos afirmam que uma investigação só deve começar após um ano, mas algo dizia à Nathália que ela não poderia perder tempo. Mesmo com algumas negativas por conta dessa recomendação, descobriu que não ovulava e, em um desses controles de contagem de óvulos, uma endometriose profunda apareceu.
“Era assintomática [a endometriose] e, por isso descobri, por acaso”, contou em entrevista à Universa.
Ela passou por uma cirurgia para tratar a doença, entre outros diversos tratamentos para outros problemas que descobriu no caminho, e então começou as fertilizações. Foram oito FIVs (Fertilização in Vitro), sete anos tentando e um aborto na sexta tentativa antes de finalmente conseguir.
“Nesse período tive o acompanhamento de psicólogos e esse apoio ajuda muito. A gravidez passa a ser seu projeto de vida e o calendário fica marcado apenas para os exames. É importante saber que existe vida fora dessas datas”, fala Nathalia, que reconhece no marido o ponto de apoio, tanto para seguir em frente como na compreensão de entender seus limites.
Mas não era só o companheiro que precisava ter empatia. O processo é desgastante e, junto com ele, chega a pressão das pessoas que estão ao redor, segundo ela, algo cruel.
“É uma carga muito grande escutar ‘desencana que a gravidez vem’. Ouvi muito que era ‘coisa da minha cabeça’ e magoa demais. Já não basta todos os obstáculos e ainda vem essa culpa. As pessoas acham que estão ajudando, mas não.”
Hoje, com a filha de dois anos e três meses nos braços, Nathalia tenta ajudar outras mulheres. Desde abril de 2017, começou a escrever o blog “N Tentativas”, que também tem conta no Instagram. Um espaço para mulheres compartilharem suas experiências.
“Recebo muitas mensagens. Todas se sentem muito sozinhas e com medo de se abrir, com medo do julgamento. De tanto apontarem as questões psicológicas como solução, acham que estão ficando doidas, afinal, só pensam mesmo naquilo”, explica a advogada.
E continua: “Esse tipo de peso mexe muito com a questão feminina. Por que eu não mereço, por que não consigo gerar?”
Nunca é psicológico, dizem especialistas
Milhares de mulheres têm histórias como (ou parecidas) a de Nathália e vivem meses, anos de persistência para concretizar o sonho da maternidade. O número de casais que enfrentam a infertilidade chega a 20%, segundo Luciana Leis, psicóloga e pesquisadora no Projeto Alfa (Aliança de Laboratórios de Fertilização Assistida).
Luciana atende com mulheres e seus parceiros com problemas de infertilidade e os acompanha no processo da fertilização há 17 anos, e afirma que o famoso “desencana que engravida” é algo cultural, que ronda os casais socialmente e responsabiliza a mulher.
“Engravidar parece algo muito fácil. As pessoas passam a vida evitando e, de repente, querem aquilo na hora. O casal se sente um peixe fora d’água, tem a autoestima rebaixada pela pressão e a própria autocobrança.”
A ansiedade é um problema?
Para saber o impacto da ansiedade e do estresse no sucesso (ou não) de uma tentativa de gestação, Luciana fez uma pesquisa com 83 mulheres em tratamento para a FIV.
“Usamos como instrumentos testes psicológicos (inventários de estresse e ansiedade), medidas do cortisol salivar, pressão arterial e frequência cardíaca das pacientes no início do processo e quando faziam a transferência embrionária. O resultado foi que mulheres menos estressadas ou ansiosas não tiveram mais sucesso do que as outras”, explica.
A psicóloga diz que o estudo permitiu colaborar para que elas se sentissem menos culpadas diante de sentimentos tão comuns em meio a esses tipos de procedimento. Segundo ela, outros estudos no mesmo caminho são contraditórios.
“Não existe mulher que não se sinta assim quando passa por isso. É importante se autorizar, em primeiro lugar, a sentir ansiedade, estresse. Faz parte. Se isso começar a atrapalhar a rotina de sono, a vida pessoal, necessitará atenção maior – mas isso para todas as pessoas, mesmo as que não estão tentando engravidar”, pontua. E para esses casos, Luciana fala sobre cada uma encontrar formas de se equilibrar, seja na ioga, algo em grupo para relaxar e estar saudável.
A doutora em medicina reprodutiva pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Marise Samama, da Clínica GERA, em São Paulo, recomenda, quando sente a paciente ansiosa, que procure acupuntura, por exemplo. Também são importantes soluções físicas, como se alimentar melhor, fazer atividade física e abrir, sempre, para o médico, os remédios que fazem parte da rotina – esses, sim, podem atrapalhar.
“Hoje eu, particularmente, não deixo uma paciente sem diagnóstico físico ou com a reposta de ‘infertilidade sem causa aparente´. Se está em tratamento e mesmo assim não consegue é porque a investigação não foi suficiente”, afirma.
Tem conhecidas tentando engravidar? E fica a dica: assim como cobrar, evitar o assunto ou esconder de outra mulher que você está grávida também não é o caminho.  Trate com naturalidade. “Se a paciente quiser, vai falar sobre o assunto com quem está em volta. Perguntar toda hora, fazer piadas do tipo ‘não sabem fazer direito´ para o casal e deixar de contar uma gravidez na família, por exemplo, machuca muito. A omissão faz com que a pessoa se sinta mal o imaginar que os outros a veem como frustrada ou que vai sentir inveja”, alerta a psicóloga.
Como saber que é a hora certa?
As duas especialistas são categóricas ao dizer que mesmo com todas as conquistas femininas, a responsabilidade de fazer a maternidade acontecer ainda recai sobre as mulheres. E o desejo por esse momento é particular: pode vir mais cedo, mais tarde ou simplesmente não acontecer.
Para as que deixam para “depois”, o congelamento dos óvulos é uma alternativa, até os 35 anos. “A pressão é toda dela, pois o estoque de óvulos diminui ao logo dos anos e nós, ginecologistas, temos que chamar atenção para essa informação, conversar a respeito”, fala Marise. E Luciana conclui: “O desejo de ter filhos não está ligado à questão biológica. Cada um tem seu tempo. A sociedade precisa parar de cobrar uma resposta linear das mulheres.”
Fonte: https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2018/10/02/desencana-que-engravida-por-que-nao-devemos-responsabilizar-a-mulher.htm

Curso: Reprodução Assistida, Infertilidade e Parentalidade

Olá, seguidores!

O post de hoje é para os colegas psis e profissionais da área da saúde.

Dia 27/10/18, sábado, ministrarei no Instituto Gerar, a convite da psicanalista Vera Iaconelli, o curso: Reprodução Assistida, Infertilidade e Parentalidade.

O conteúdo está bem bacana! Aguardo vcs!

Luciana Leis

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Reprodução Assistida, Infertilidade e Parentalidade

Objetivo: Abordar os aspectos emocionais envolvidos na infertilidade e seus tratamentos, promover reflexões e discussões a respeito da parentalidade atravessada pela vivência da dificuldade de gravidez, gametas doados, útero de substituição, casais homoafetivos e reprodução independente.

Curso ministrado por Luciana Leis
Público Alvo: Psicólogos, psicanalistas, médicos, enfermeiros, biólogos e biomédicos
Data: Sábado, dia 27 de Outubro de 2018
Duração: das 08:00 as 17:30 horas (intervalo de almoço das 12:00 as 13:30 horas)
Custos e forma de pagamento: Custo Total: R$340,00.
Forma de pagamento:
R$170,00 no ato da inscrição (via depósito)
R$170,00 dia 20/10/18 (via boleto)
Carga Horária: 8 Horas
Certificado: O aluno deverá ter frequência mínima de 75% das aulas.
Inscrição e Pagamento: 1. Inscreva-se no link e aguarde a confirmação de que há vaga, e os dados bancários para o pagamento da matrícula.
2. Envie o comprovante do depósito da matrícula para: atende@institutogerar.com.br
Local: Instituto Gerar
Rua Natingui, 314
Vila Madalena

A internet e as pacientes de infertilidade

mulher-computadorOlá, pessoal!

Gostaria de compartilhar com vocês que nos dias 02 e 03 de agosto estive no Congresso da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida onde participei compondo 2 mesas redondas. Neste congresso, também foi o lançamento do livro “Guia de Recomendações de Atenção Psicossocial nos Centros de Reprodução Assistida”.

Escrevi neste livro, juntamente com minha colega Ana Rosa Detílio, um capítulo sobre mídia virtual e pacientes de infertilidade, sendo, justamente desse assunto que desejo falar com vocês.

Pesquisando sobre o tema e, percebendo na prática muito do que verifiquei na pesquisa, (afinal, atendo pessoas que fazem uso da internet para auxiliá-las no processo de busca por um filho e tenho blog), penso ser importante trazer alguns temas para reflexão.

É verdade que a internet revolucionou os cuidados com a fertilidade e infertilidade e se tornou uma fonte importante de busca por informações. Nela, os(as) pacientes podem acessar informações sobre diagnósticos, tratamentos, profissionais de saúde, recomendações de toda ordem e muitas outras coisas.

Com a internet e as redes sociais, os(as) pacientes passaram a criar grupos de apoio, onde, além da troca de informações, pode-se também compartilhar histórias de vida e diminuir o sentimento de solidão que toda essa vivência traz consigo. É muito reconfortante perceber que não estamos sozinhos(as) nesta luta e que tem outras pessoas vivendo e sentindo semelhante a nós.

Percebo que a internet e os grupos on line tem sido importantes para pacientes no enfretamento da infertilidade, pois estes acabam sanando suas angústias com informações e também proporcionando amizades que vão além do virtual.

No entanto, penso ser relevante colocar também, que é fundamental verificar a fonte das   informações do que se lê, afinal, não é porque está na internet que é verdade. Todo emissor tem uma intenção com o que comunica, portanto, fiquem atentos(as)!

Além disso, dentro do possível, busquem aprender com a história do outro, porém, sem perder de vista a sua. Cada história é particular e, não necessariamente, o que aconteceu com o outro irá acontecer com você. Vejo, rotineiramente, pacientes preocupadas com diagnósticos e protocolos de tratamento que não são os seus, o que acaba por aumentar a ansiedade.

Para finalizar, gostaria de dizer que é válido todo tipo de suporte emocional, principalmente, que os grupos on line (facebook, instagran, fóruns de discussão etc) oferecem. No entanto, além do suporte virtual, é importante também buscarmos o suporte nas redes reais (amigos e família), uma vez que pontos de vista diferentes do das pessoas que vivem a infertilidade podem somar e oferecer um acolhimento diferente, o qual, somado ao apoio virtual, pode deixar toda essa caminhada mais leve.

Luciana Leis